Texto Nu | UM CESTO MAIS VAZIO E A MESA MAIS SILENCIOSA


Em Luanda, como em muitas partes de Angola, o pão custa mais. O arroz, o óleo, o gás. E é também a paz de espírito.




 

São 7h15 e o sol já bate forte nas bancas do mercado do Asa Branca. Dona Elsa chega com um cesto na cabeça e esperança nos olhos. Vai comprar o essencial. “Essencial agora é só arroz e um pouco de óleo. Carne... só ao fim-de-semana, se sobrar algo.”

 Dona Elsa tem quatro filhos. O marido perdeu o emprego na construção civil há três meses. O que ela vende de goiaba e banana na rua mal dá para manter os pequenos a estudar. “Os miúdos comem funje com feijão quase todos os dias. Já não sei o que é variar.”

 Conversamos também com Marcolino, funcionário público, pai de três. Mostra o talão do supermercado com indignação. “O saco de arroz passou de 4.000 para 7.000 kwanzas. O salário é o mesmo. Como é que se vive assim?”

 A inflação não é só números em relatórios. É barriga vazia. É stress. É silêncio à mesa. É o olhar de uma mãe que divide o bife em cinco, como quem divide dignidade.

Quem vive em Luanda sabe: a vida está cara, e o governo parece longe. A economia falha, e quem paga é o povo.

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