A farda pesa mais que a consciência
Em nome da paz, há quem espalhe violência.
Em nome do Estado, há quem mate o povo.
As ruas de Angola já foram palco de manifestações legítimas.
Vozes jovens, gritos de esperança, cartazes feitos à pressa, mas com o peso de
uma geração cansada. E, em resposta, muitas vezes, a força não a da lei, mas da
brutalidade.
Não é segredo.
Nem lenda urbana.
Polícias que deviam proteger, tornam-se carrascos. Fardas
que deviam representar segurança, tornam-se sinónimo de medo.
Há vídeos.
Há mães que enterraram filhos.
Há nomes que já não se ouvem, porque foram silenciados com
balas.
Joãozinho, 19 anos, estudante. Levava um cartaz com a frase:
“Queremos futuro, não fuzilamento.” Foi arrastado por quatro agentes, espancado
e deixado a sangrar. Não era criminoso. Era cidadão.
Os processos desaparecem.
As provas evaporam-se.
As desculpas oficiais são sempre as mesmas: “resistiu à
detenção”, “estava armado”, “era arruaceiro”.
Mas os corpos continuam a cair no chão da pátria. E os
culpados? Promovidos. Transferidos. Esquecidos.
A pergunta que ninguém responde: quem protege o povo da
polícia?
Angola não precisa de mais medo. Precisa de justiça. Precisa
de uma corporação que se lembre que antes da farda, há um rosto. Antes da arma,
há um ser humano. E antes da ordem, há direitos.
A dor das vítimas não passa com comunicados. Nem com pedidos
de desculpa envergonhados. O que se espera é responsabilização verdadeira,
legal, pública.
Porque quando um agente agride um cidadão, não é só ele que
falha, é todo o sistema que o permite.
Este texto não é contra a polícia.
É contra os que usam a farda para esconder covardia.
É contra os que confundem autoridade com autoritarismo.
É por aqueles que saíram de casa com coragem, mas não
voltaram.
É por um país onde protestar não pode ser uma sentença de morte.
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