Era 11 de
novembro de 2020, dia em que Angola celebrava 45 anos de independência. Mas,
para muitos, foi o dia em que a esperança começou a ruir quando as ruas de
Luanda se encheram de jovens que se recusavam a viver em silêncio.
Entre eles
estava Inocêncio de Matos, estudante de 26 anos, de engenharia
informática na Universidade Agostinho Neto. Não carregava armas. Carregava
um cartaz de protesto.
E foi
atingido mortalmente.
O Hospital Américo Boavida confirmou: trauma craniano encefálico, exposição da
massa cerebral, fractura exposta, tudo compatível com agressão por objeto
contundente, provavelmente pau ou ferro. A família afirma que Inocêncio foi
atingido por uma bala. Uma segunda autópsia em presença de advogado e testemunhas
identificou orifícios compatíveis com tiro de ricochete.
O DIA EM QUE O SILÊNCIO BAIXOU
A
manifestação, embora proibida pelo governo devido à Covid‑19, foi resultado da
frustração acumulada: desemprego, ausência de autarquias, promessas quebradas.
A polícia reprimiu com violência. Prisões. Feridos. Espancamentos.
Inocêncio caiu. A polícia afirmou que ele apenas caiu. O hospital disse que lhe
deram assistência, mas quatro horas depois, ele morreu.
Às famílias,
dizia o pai, Alfredo Matos , prometeram investigação. Dois anos depois, nada
foi esclarecido. Na justiça angolana, diz-se que não há vontade para
responsabilizar.
HONRA NOS OUTROS E ECOS NAS RUAS
O funeral de
Inocêncio tornou-se acto político um mar de jovens gritando palavras de ordem:
“Inocêncio, descansa, a luta continua” ou “MPLA é que o matou”.
Para uns, ele virou símbolo. Para outros, um aviso: quem ousa reunir-se em
silêncio, adoece; quem ousa protestar, vive. Mas às vezes, morre.
Justiça Nunca Chega?
- A PGR retirou o cadáver da
família antes da autópsia independente pactuada.
- Advocacia afirmou que o laudo
nunca foi entregue à família.
- Testemunhos não foram
constituídos parte civil.
- Ninguém foi acusado.
Duas promessas presidenciais depois, a investigação segue adiada. A retribuição, tardia.
A família diz que “desse sistema não espera nada, mas continua exigindo. Porque ele era filho de Angola”.
RESPOSTA EDITORIAL TEXTO NU
Inocêncio de
Matos não era militante político. Era apenas jovem que quis cobrar direitos.
Não era figura mediática. Virou símbolo à força da dor silenciosa.
Não fez manifesto. Só improvisou poesia no rosto de quem saiu para protestar.
Hoje,
continuamos a exigir justiça não só por ele, mas por todos cujos nomes foram
esquecidos pelo sistema. Quantas vidas precisam romper o silêncio para que a
justiça se levante?
Porque onde
se mata um sonhador, nasce um símbolo.
E a verdadeira mudança... continua pedindo passagem.
Fontes Consultadas
- DW África sobre as circunstâncias da
morte e simbologia de Inocêncio
- Hospital Américo Boavida e declarações da RFI sobre
causa da morte
- RFI, VOA, Lusa, Novo Jornal sobre a morosidade da justiça
e silêncio institucional.
- Esquerda.net sobre funeral e represálias
simbólicas
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