Texto Nu | DINIS TIVANE: A LEALDADE QUE DESAFIA TEMPESTADES

Há aqueles que olham de longe. E há quem permaneça firme no olho do furacão. Dinis Tivane, assessor próximo de Venâncio Mondlane, líder da oposição em Moçambique, é um desses nomes. Um homem cujo silêncio pesa tanto quanto o seu discurso.

A traição anunciada

Em janeiro de 2025, diante da tomada de posse dos deputados do partido PODEMOS, Tivane declarou que proceder era uma “traição” ao povo que luta nas ruas desde outubro de 2024, após eleições contestadas. Samsa de indignação, fez-se vídeo: “Por que correr para tomar posse de 43 assentos quando se afirma que se merecem 138?”, desafiou. Para ele, aceitar os assentos significaria abandonar a luta popular que clamava por justiça eleitoral.

O partido reagiu com espanto e tentou desassociar-se da fala. Mas Tivane manteve firme a convicção: para ele, fazer o certo era mais importante que manter alianças frágeis.

A ruptura com o PODEMOS

Em fevereiro, veio o choque: Tivane rompeu formalmente com o seu partido político. Assinou um comunicado em nome do “Gabinete do Presidente Eleito pelo Povo”, justificando a ruptura numa crítica dura: acusou o PODEMOS de ter traído a luta do povo mediante acordos que priorizaram cargos em vez da justiça social. “Abdicar de direitos é minorar a essência da nossa causa”, afirmou.

Constância no olho do poder

No fim de abril de 2025, o envolvimento de Tivane nas manifestações anti-fraude tornou-se alvo de investigação judicial. Após nove horas de interrogatório no Gabinete Central de Combate ao Crime Organizado e Transnacional (GCCCOT), foi oficialmente constituído arguido — e submetido ao termo de identidade e residência.

A acusação recai sobre a sua participação nas mobilizações nacionais. Apesar da pressão, nunca se retraiu: mantém-se presente, firme e consciente do peso de ser oposição num país em ebulição democrática.

A vida sob fogo político

Em fevereiro, Tivane denunciou ter sido alvo de ataque à bala contra a sua residência. Vinte e quatro tiros disparados em um gesto claro de intimidação política, segundo ele mesmo. Denunciou a FRELIMO como provável autora, justificando que a violência contra portas e janelas era aviso velado a quem ousa incomodar.

Ele não se fingiu de invulnerável: admitiu que sente medo, mas garantiu que continuará. “Posso ser carne para canhão, mas não me deixarei calar”, declarou à DW África.

Um símbolo de lealdade em tempos de colisão

Dinis Tivane não é político tradicional. É um homem que acredita que lealdade não se dá em conveniência. É soldado da causa de Venâncio Mondlane sem curvar-se à lógica de poder que corrompe quando se esquece do povo.

É referência para uma nova geração que vê na ética — não na ambição — o verdadeiro legado da liderança. E insiste em se manter leal às suas convicções, mesmo quando o vento sopra contra.

Em Moçambique, o jogo político parece pesar mais do que o protesto nas ruas. Mas figuras como Dinis Tivane lembram que ainda há espaço para coerência. Que ainda há quem prefira sofrer ameaças por princípios do que sorrir com traições.

Ele não busca glória. Só quer honestidade.
E nisso reside sua força.

Fontes consultadas

Por:  Equipa Editorial

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