Há silêncios que matam. E há silêncios que denunciam. Mas Luaty Beirão sempre escolheu o segundo.
Num país onde a palavra pode ser crime e a coragem custa a liberdade, ele
decidiu não calar.
Filho de um general. Formado em engenharia.
Amante do rap. Activista sem partido, sem medo, sem filtro. Luaty não procurou
fama, foi a verdade que o empurrou para a linha da frente. E quando muitos
preferem o conforto da omissão, ele preferiu a prisão da consciência limpa.
Em 2015, foi preso por segurar um livro e discutir ideias com outros jovens.
“Ferramentaspara destruir o ditador e evitar nova ditadura”, de Gene Sharp. Foi
o suficiente para o regime chamar-lhe criminoso. Não por actos. Mas por
pensamento.
22 dias de fome, 22 dias de luta
Dentro da cela, Luaty iniciou uma greve
de fome. Durante 22 dias,
recusou o pão e a água suja da submissão. E nesse tempo, Angola inteira parou.
O seu rosto magro, olhos fundos, boca seca, tornou-se símbolo de um povo
cansado de esperar.
“O corpo é meu. A dignidade também. E disso,
não abro mão.” — escreveu.
A sua luta não era só por si. Era por todos os
jovens que nascem em becos e crescem sem espaço. Era por aqueles que só são
ouvidos quando gritam. E por vezes, nem assim.
O rapper que virou símbolo
Conhecido nos palcos como Ikonoklasta,
Luaty misturava batida com denúncia. Mas a música nunca lhe bastou. Não queria
só cantar sobre mudança. Queria vivê-la. Queria arrancá-la da lama da corrupção
e entregar ao povo um país respirável.
Mesmo depois da prisão, não recuou. Escreveu.
Falou. Marchou. Incomodou. E continua a incomodar porque quem não se vende é sempre ameaça.
Luaty Beirão não é perfeito. E não quer ser. É humano, falível, mas verdadeiro.
E isso basta.
Num país onde o medo é moeda corrente, ele pagou com o corpo para manter a alma limpa. Hoje, não está nas listas do poder, mas está na memória de quem ainda acredita que Angola pode mudar.
Redação Texto Nu – A Verdade que
Sente
Luanda, Julho de 2025
textonuverdade@gmail.com
0 Comentários