Equipa de Pesquisa Texto Nu
Na periferia de Luanda, milhares de pessoas vivem sem acesso a água potável. Enquanto se fala em progresso, há quem ainda acorde às 4 da manhã para carregar baldes.
Acorda antes
do sol. Amarra o pano na cintura. Pega nos baldes. E caminha. Dona Cecília tem
62 anos e vive no bairro Zango 3, em Viana. “Tem dias que vou duas vezes por
dia ao chafariz. São dois quilómetros, ida e volta. E às vezes nem tem água.”
A água chega
de vez em quando, com sorte. E quando chega, é paga a preço de ouro: 150
kwanzas por cada balde de 20 litros. “O meu filho ganha 35 mil kwanzas. Só com
a água já vai metade.”
Os efeitos
são visíveis. Há crianças com diarreia constante. Há senhoras com infecções.
“Temos que escolher: ou usamos para beber, ou para lavar. Lavar roupa, só no
domingo.”
Visitámos
também o bairro da Caop B, onde as mangueiras improvisadas cortam as ruas como
veias abertas. Água suja, com cheiro. Mas é o que há. “Fazemos o que podemos.
Fervemos. Rezamos para não adoecer.”
Enquanto se
anunciam novos investimentos e obras públicas na televisão, a realidade
continua árida. A água, que devia ser direito, continua a ser um luxo.
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