O aparelho deixou de representar apenas um meio de comunicação. Hoje, para alguns, é um marco de ascensão, um troféu simbólico que traduz a superação de dificuldades e o alcance de um patamar de conforto e reconhecimento. O logótipo da maçã de forma discreta, mas inconfundível, carrega um peso cultural que vai muito além da tecnologia: comunica poder, modernidade e prestígio.
Curiosamente, criou-se em torno deste fenómeno uma crença social peculiar. Entre vários angolanos, consolidou-se a ideia de que o iPhone e as chaves do carro não devem ser guardados no bolso nem dentro da pasta. Devem estar sempre à vista, como uma espécie de emblema social que confirma presença, sucesso e distinção.
Não se trata de vaidade; é uma forma de expressão. Uma linguagem visual através da qual muitos procuram legitimar o seu lugar num meio onde o “parecer” ainda tem mais força do que o “ser”.
Esta realidade expõe algo mais profundo: a relação entre consumo, identidade e reconhecimento. Em contextos como o nosso, a posse de certos bens ultrapassa a utilidade prática, converte-se num símbolo de pertença, de respeito e de realização pessoal.
O iPhone, portanto, assume um papel quase narrativo: conta uma história sobre progresso, ambição e estatuto. Contudo, esta tendência convida à reflexão. Até que ponto o valor da aparência está a moldar a forma como definimos o sucesso? Será que o materialismo está a substituir o mérito, a simplicidade e a autenticidade que deveriam sustentar o verdadeiro sentido de conquista?
O iPhone é um espelho da sociedade angolana contemporânea, um reflexo das nossas aspirações, das nossas fragilidades e da constante necessidade de validação social.
E talvez revele uma verdade incontornável: vivemos num tempo em que a imagem fala mais alto do que as palavras, e o brilho do que se mostra, muitas vezes, ofusca o valor do que realmente se é.
Por: Sabrado Domingos Manuel


    
    
    
  
  
    
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